A CANGALHA



Nos círculos de serviço,
Toda a gente que trabalha
Nem sempre sabe entender
A nobreza da cangalha.

Não fosse ela, entretanto,
Que atende, promete e faz,
E talvez o campo inteiro
Viveria estranho à paz.

Convenhamos na prudência
Que vem do rifão de antanho –
Basta, às vezes, uma ovelha
Para perder o rebanho.

O muar deseducado,
Que a força brutal anime,
Nunca perde ensejo ao coice
E está sempre pronto ao crime.

Viveu ao léu, ameaçando
A golpes de grosseria;
Aparentando brandura,
Transborda selvageria.

Transforma-se, comumente,
No animal rude e vilão,
Que se esquiva do trabalho,
Por preguiçoso e ladrão.

Todavia, chega o instante
Em que a cangalha, bondosa,
Comparece orientando,
Honesta, laboriosa.

Ligada por laço forte
Ao amigo da indolência,
Dá-lhe os bens da utilidade
Em luzes de experiência.

Perguntemos a nós mesmos,
Notando-a, modesta e bela,
Quais os homens deste mundo
Que podem viver sem ela.

*

O dever, como a cangalha,
Que tanta grandeza encerra,
E’ a balança de equilíbrio
Nas vidas de toda a Terra.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier