A COVA



Raro é aquele que medita
Contemplando a terra impura,
No trabalho peregrino
Da cova pequena e escura.

Assemelha-se à ferida
Sobre a leira dadivosa,
Indicio de golpes fundos
Da enxada laboriosa.

Mas, na essência, a cova simples,
Singela, desconhecida,
É o altar da Natureza,
Celebrando a luz da vida.

É seio aberto à beleza,
Ao bem que se perpetua,
A existência renovada
Que se eleva e continua.

É o sepulcro onde a semente,
Em sombra e separação,
Vai, morrendo, reviver
Nas bênçãos da Criação.

E eis que a vida se elabora
Nessa doce intimidade,
Renovando-se aos impulsos
De força e imortalidade.

Depois do apodrecimento,
Germinação e esplendores,
Verdes galhos de esperança,
Tenros ninhos promissores.

Mais tarde, o tronco, a colheita
Na fartura indefinida…
Tudo, a obra generosa
Da cova humilde e esquecida.

Esse símbolo expressivo
Vem lembrar, à criatura,
O campo do cemitério
E o quadro da sepultura.

*

Inda aí, a cova amiga
É sempre o sublime umbral,
Porta aberta ao crescimento
No plano espiritual.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier