ARTHUR LINS DE VASCONCELLOS LOPES – BIOGRAFIA

Arthur Lins de Vasconcellos Lopes

Em 21 de março de 1.952, desencarnava na cidade de São Paulo, onde residia, o Dr. Arthur Lins de Vasconcellos Lopes, sendo sepultado, conforme seus desejos, no jardim do Sanatório Bom Retiro, em Curitiba, cidade que muito amou.

Contribuiu largamente para a expansão do Espiritismo no Brasil, prestando assinalados serviços à Doutrina Espírita.

Levantou e apoiou inúmeras obras de caridade e beneficência, nas quais até hoje lhe abençoam o nome, devendo-se-lhe o prédio onde se acha instalada a Federação Espírita Paraibana.

Desenvolveu importante obra de assistência social, sem paralelo no meio espírita nacional.

Pacificador por excelência, padrão do verdadeiro homem de bem, tolerante em todos os sentidos, sempre à frente de todas as iniciativas que exigissem responsabilidade e denodo, foi alçado à posição de líder pelos próprios espíritas brasileiros.

Trabalhou ativamente no propósito de unir as famílias espíritas de nossa Pátria, tornando-se um dos que mais concorreram para a concretização do célebre “Pacto Áureo”, em 5 de outubro de 1.949, o qual efetivou a unificação tão ardentemente desejada pela Federação Espírita Brasileira.

Sua existência foi um impressionante libelo contra a ociosidade e desânimo. Lutou muito, lutou sempre; lutou e venceu, venceu porque lutou.

Sua vida terrena teve início no dia 27 de março de 1.891, na cidade de Teixeira, alto sertão da Paraíba do Norte.

Era portanto, sertanejo, como sertanejos foram seus pais. Conheceu nos primeiros anos da meninice as dificuldades dos que vivem afastados das grandes cidades, sem os recursos dos que dispõem os que residem nos centros populosos. Começou assim a lutar desde a infância, fortalecendo nos albores da vida o seu espírito empreendedor.

Enquanto outras crianças brincavam, despreocupadas, ele limpava, à enxada, a plantação, ou roçava para a semeadura. Quando lhe sobrava tempo, aprendia a ler e a escrever. Já rapazinho, veio a ser tropeiro, a demandar as serranias do sul do Estado, de fazenda em fazenda, de vila em vila, vendendo ou trocando mercadorias. Às vezes, chegava até as terras de Pernambuco.

Moço feito, rumou para o Recife, onde exerceu atividade de caixeiro de casa comercial. Ali, porém, não ficou. Sentia-se atraído para as terras do sul do País, e é assim que se transfere para Curitiba, capital do Estado do Paraná, onde viveu longa parte de sua existência, e onde se entregou com todo o ardor ao estudo.
Alistando-se no exército, foi servir no 3º Regimento de Infantaria (3º R.I.) sediado naquela Capital, formando no 18º Batalhão. Em pouco tempo, pela sua dedicação e pelo seu esforço, alcançava o posto de sargento. Iniciou seus estudos superiores matriculando-se, em 1918, na Escola Superior de Agronomia de Curitiba, onde fez brilhantemente seu curso de engenheiro agrônomo.
Se os que não precisam pensar nas despesas vultosas com estudos nem sempre fazem com facilidade a escalada do monte da sabedoria, imaginemos os que precisam pensar nos estudos e nos meios para custeá-los. Outras vezes foi necessário gratificar outros camaradas de caserna, que não se preocupavam com os livros, para não perder as aulas da Faculdade.
Mantendo desde moço uma independência religiosa, embora aceitando desde a infância a idéia da existência de Deus, Lins de Vasconcellos não se prendeu, nessa etapa da vida, a um conceito religioso definido..
Só um caminho poderia conduzi-lo à compreensão do porquê da vida, das desigualdades sociais, do desequilíbrio na organização humana, que provoca a desventura e a infelicidade dos seres; todas as indagações de seu espírito empreendedor seriam respondidas mais tarde, quando, pelas mãos carinhosas de Antonio Duarte Veloso – dedicado servidor da Causa Espírita -, conheceu as belezas incomparáveis da Doutrina Espírita, isto em 1912. Era a base segura que lhe faltava para suportar o gigantesco edifício de sua formação humanitária e altruística, ansiosa de ver a felicidade de todos os seus irmãos em Humanidade.
Em 1915, como secretário geral da Federação Espírita do Paraná, ele participava, com a alma em regozijo, da inauguração do Albergue Noturno daquela entidade, inauguração que contou com a presença do então Presidente do Estado, Sr. Carlos Cavalcanti de Albuquerque.
Em 1916, trabalhou ativamente no II Congresso Espírita Paranaense.
Criada a “Revista do Espiritualismo”, órgão da Sociedade Publicadora Kardecista do Paraná, Lins se tornou um dos seus diretores.
Em seu último estágio em Curitiba, Lins de Vasconcellos fora elevado à posição de escrevente juramentado em certo tabelionato daquela cidade. Exercia com probidade e competência suas funções, quando inesperadamente, se viu demitido. É que ele, na qualidade de presidente da Federação Espírita do Paraná, protestara contra ato inconstitucional do Governo do Estado, que doara terras para a instalação de dois bispados. O protesto de Lins de Vasconcellos foi secundado pelo do Prof. Dario Veloso, ilustre homem de letras e presidente do Instituto Néo-Pitagórico de Curitiba, bem como por outros livre-pensadores.
Lins de Vasconcellos sofre perseguição e muitos aborrecimentos, inclusive condenação judicial, mais tarde revogada pelo Tribunal. Embora desequilibrado em suas finanças, não caiu em desânimo. Possuído de alto tino comercial, lança-se ao comércio madeireiro. Começa a prosperar e a enriquecer.
Em 1930, resolve mudar-se para o Rio de Janeiro, e é nessa ocasião eleito presidente honorário da Federação Espírita do Paraná, pelos assinalados serviços a ela prestados.
Os bens materiais multiplicam-se rapidamente em suas mãos.
Consolidada a sua posição social e financeira com a fundação da Companhia Pinheiro Indústria e Comércio, da qual era diretor-presidente, não tendo dali por diante maiores preocupações de ordem econômica, mercê de uma independência que conquistara com sua visão de industrial operoso, dedicou-se inteiramente ao Espiritismo, a este dando tudo que lhe foi possível dar.
Sua cooperação humanitária, junto aos companheiros espíritas de vários Estados, foi multiforme: nos movimentos educativos da criança, no socorro às instituições de amparo à velhice e à infância abandonada, no empenho para a criação de Lares Infantis, Sanatórios, Hospitais, Ginásios, Creches, Institutos de Ensino, etc., tudo em benefício do indivíduo e da coletividade, num trabalho contínuo que durou até aos seus últimos dias de vida terrena. “A maior glória de Lins” – escreveu um seu biógrafo – “é não ter sido ele corrompido pelo fascínio do ouro”.
Cremos tenha sido a Federação Espírita do Paraná a primeira entidade a receber sua colaboração doutrinária e econômica. Quando na sua presidência, traçou um longo programa de realizações em todos os setores de atividade daquela Instituição Estadual, nela incluindo, então, o programa de ensino do Espiritismo às crianças, antevendo a necessidade de prepará-las, para que investidas, no futuro, nas organizações espíritas, pudessem produzir mais e melhor.
Por volta de 1938, em passeio a Curitiba e presente à reunião do Conselho da Federação Espírita do Paraná, Lins de Vasconcellos propôs-se entrar com apreciável soma de recursos para o reinicio das obras do atual Hospital Espírita de Psiquiatria “Bom Retiro”, tendo mantido sua colaboração econômica até a inauguração do mesmo.
Participou ativamente da Coligação Nacional pró Estado Leigo, da qual foi presidente, dedicando-lhe todos os esforços para que a luta pela laicidade do Estado fosse uma batalha constante até à conquista da independência da nação na questão do campo religioso.
Em 1948, quando a “Gráfica Mundo Espírita” enfrentava uma crise seríssima, sua cooperação espontânea e sincera veio evitar o desaparecimento dela, e, assumindo a sua direção, enfrentou todas as dificuldades decorrentes de sua atitude salvadora. Imprimiu nova orientação doutrinária a “Mundo Espírita”, periódico fundado em 1932, evitando que suas colunas servissem de veículo de idéias destruidoras e separativistas.
Apesar dos grandes prejuízos causados pela publicação do jornal e de livros doutrinários, ele sustentou a luta e esteve à frente de “Mundo Espírita” até aos últimos momentos. Esse jornal passou a ser o órgão noticioso e doutrinário da Federação Espírita do Paraná.
Ainda em 1948 empenhou-se na realização do I Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil, apoiando a idéia do Deputado Campos Vergal, transformada em realidade pela atuação de Leopoldo Machado. Foi uma de suas principais figuras, contribuindo, ainda, decisivamente na parte financeira. Por unanimidade, foi proclamado seu presidente de honra e, na sessão de instalação, na manhã do dia 18 de junho de 1948, proferiu discurso, fazendo a entrega simbólica do Congresso aos moços espíritas ali reunidos.
Em fevereiro de 1949, fundou Lins de Vasconcellos a Ação Social Espírita – sonho maior de sua vida – instituição que se destinava ao trabalho social do Espiritismo em todos os seus aspectos e sob todas as formas.
Graças ao seu espírito de colaboração e boa vontade, realizou-se a Primeira Festa Nacional do Livro Espírita, de 14 a 18 de abril de 1949.
Quando dos preparativos para a realização do II Congresso Espírita Pan-Americano, que se reuniu no Rio de Janeiro, no período de 3 a 12 de outubro de 1949, foi Lins de Vasconcellos chamado para participar da Comissão Organizadora, sendo-lhe entregue o cargo de Tesoureiro da Comissão, devendo-se ressaltar que da sua ação coordenadora e sensata deve-se o êxito alcançado por aquele certame.
A unificação da família espírita brasileira viria, mais cedo ou mais tarde, se essa era a vontade superior. Mas, talvez não viesse tão depressa, não fosse a ação e a atividade conciliatória e aproximativa de Lins de Vasconcellos. Ninguém, como ele, almejava reunir os seus irmãos em ideal para um trabalho em comum. Esse foi sempre seu grande sonho., Vivia para concretizar esse desejo e os mentores espirituais fizeram-no o instrumento sensato e prudente para que essa aproximação se desse.
Em 5 de outubro de 1949 foi, talvez o dia mais feliz da sua vida. Foi o dia do “Pacto Áureo”, o dia áureo da confraternização. Se nada mais houvesse feito em prol da Causa -e foram tantos os benefícios que prestou ao Espiritismo – sua ação para a união da família espírita brasileira, em torno da Casa de Ismael, lhe teria valido como uma certeza de que não fora vazia e inexpressiva sua vida no mundo.
Era ainda o Dr. Lins, no campo das atividades doutrinárias, representante da Federação Espírita do Paraná, no Conselho Federativo Nacional, membro efetivo da Assembléia Deliberativa da Federação Espírita Brasileira, vice-presidente da Liga Espírita do Estado da Guanabara, 1º Secretário da Sociedade de Medicina e Espiritismo do Rio de Janeiro e seu presidente de honra.
Não se pode dispensar a colaboração da mulher nas grandes Causas. Todos os grandes homens tiveram em suas vidas a influência da mulher. Lins de Vasconcellos não foi uma exceção à regra. Nada realizava sem que ouvisse sua esposa. Fazia questão que em tudo aparecesse aquela que partilhava de sua vida e conhecia as suas aspirações e desejos. E a esposa dedicada que foi Dona Hercilia César de Vasconcellos Lopes retribuía-lhe essa justa consideração com o seu carinho e a sua afeição. Compreendia ele o papel da mulher na reforma do mundo e, sempre que se lhe oferecia oportunidade, concitava os homens ao amparo e proteção à mulher e à criança. E a Companheira de longos anos de luta e realizações soube enfrentar o momento da partida do ente amado, demonstrando, na serenidade a resignação, que estava bem à altura do querido ausente.
Toda a família espírita sentiu o seu desaparecimento da vida física, em 21 de março de 1952, ficando a Seara do Senhor, no campo terreno, desfalcada de um de seus mais denodados e dedicados servidores.
Respeitáveis nomes do Espiritismo no Brasil teceram longos e justos elogios à obra do benfeitor e do homem de ação, ouvindo-se, ainda, a palavra do grande médium brasileiro, Francisco Cândido Xavier, nessa afirmativa: “Era ele uma coluna firme da doutrina em nosso País e um companheiro abnegado de nosso movimento de unificação”.
Mais tarde, a Federação Espírita do Paraná, que tantos benefícios recebeu de Lins de Vasconcellos, inclusive através de testamento, prestou-lhe significativa homenagem, dando-lhe o inesquecível nome ao educandário por ela criado – “Instituto Lins de Vasconcellos”, – hoje, Colégio “Lins de Vasconcellos”.
Para mais detalhes consultar o livro “Lins de Vasconcellos – o diplomata da unificação e o paladino do Estado leigo” de autoria de Ney Lobo, editado pela Federação Espírita do Paraná.
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Bem sabemos que a Morte não existe. Certos, diante da comprovação dos fatos, de que os seres queridos que partem continuam vivos, e que, mais cedo ou mais tarde, te-los-emos de novo em nossa companhia, não é o desespero que nos assalta, senão apenas a saudade, quando recebemos a notícia da passagem de um desses entes.
Entretanto, não foi sem profundo choque, sem profundo abalo, que nos veio pelo telefone a triste notícia: – faleceu Lins de Vasconcellos.
A morte de Lins era o vácuo impreenchível. Ele era tudo entre nós. Nas oficinas do jornal, no escritório, nos corações. Nada se fazia sem a sua palavra, sem o seu conselho, sem a sua ação. Era quem dispunha, e tudo dependia dele.
Nada faltava a este periódico, porque ele aqui estava. E não media sacrifícios para mantê-lo, nem de tempo, nem de dinheiro, nem de sua preciosa saúde. E os trabalhos que teve, as desilusões por que passou, as verdadeiras amarguras que curtiu, as lágrimas necessariamente ocultas, que derramou, os bens que expendeu, a abnegação que demonstrou, tudo isto só o sabem aqueles que privavam com ele e que testemunhavam o seu imenso labor nesta casa.
Lins devia ser um espírito extraordinariamente forte. Muito agudos, por vezes eram os espinhos que o feriam. Ninguém, porém, lhe ouvia os queixumes.
Constantemente batiam-lhe à porta, e sabem-no de ciência certa aqueles que o procuravam, que nunca se fechava.
Como geralmente acontece com os espíritos elevados, a sua boa fé não tinha limites. E daí lhe provinham os maiores desenganos e as dores mais profundas, quando a ingratidão se apresentava como a recompensa do que fazia.
Era aquela fé que o sustinha. Ele acreditava na harmonia e na paz entre os homens. Só via nas criaturas a parte sã. Supunha que todos se regenerariam. E tinha um grande ideal, ideal que era a sua missão na terra: implantar a concórdia na família espírita. E foi sob os imperativos desse ideal que se tornou o principal impulsionador do célebre Pacto Áureo.
Sempre foi aquele o seu sonho. Nunca teve a menor idéia sectarista. Ele não era contra ninguém; era a favor de todos. O que ele desejava era a união. A união entre todos os espíritas, essa união que faz a força e a prosperidade, não só para que déssemos ao mundo um exemplo de confraternização, como para que, unidos, pudéssemos resistir ao embate violento dos adversários.
Ele era por todos os movimentos onde houvesse a aproximação dos espíritas em particular e das criaturas em geral.
Todos os moços sabem da sua cooperação valiosa, material e moral, por ocasião do Congresso de Mocidades Espíritas do Brasil, à frente da qual se achava Leopoldo Machado.
E o Congresso foi um verdadeiro triunfo, a começar pela sessão solene de inauguração no teatro João Caetano.
Em todas as solenidades, onde era preciso dar uma demonstração de atividade, e sobretudo, de solidariedade, poderíamos contar com a ação denodada de Lins de Vasconcellos, que mesmo doente, animava com sua presença, com sua palavra, com sua constante jovialidade, esses ágapes onde reinava a fraternidade e a harmonia, e onde se procurava implantar nos corações aquela semente de amor que o Cristo trouxe à Terra, pedindo aos seus discípulos que as levassem a toda a parte e a toda a criatura. E o Lins não fez outra coisa que não fosse espalhar aquela semente.
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A sua vida foi um memorável périplo. É a demonstração do que pode alcançar um espírito varonil. Foi uma luta constante, ininterrupta, entre a tenacidade e as asperezas; entre o vigor do ânimo e a adversidade.
Entrou pobre na vida e começou a lutar. E todos conhecem o que são as vicissitudes dessa luta quando o lutador é honesto, quando coloca sistematicamente de lado tudo o que possa macular a alma. E Lins, na sua juventude, quando ainda não conhecia os postulados do Espiritismo, quando o espírito ainda se pode deixar vencer pelo mundo e cair nas malhas da insídia, conservava imáculo o seu belo coração.
Foi um combate difícil, como todos os combates onde há desproporção de forças; de um lado, um jovem pobre e inexperiente, do outro, a vida com suas angústias e os homens com suas maldades.
Venceram a força de vontade, a obstinação no bem, a capacidade de trabalho, a inteligência. E o nosso denodado amigo conseguiu a sua independência econômica.
Formou-se em Engenharia, onde demonstrou a sua capacidade intelectual, e se tornou um industrial respeitável, por onde se via a sua imensa capacidade de trabalho e de organização.
Ei-lo, enfim, nas fileiras espíritas. A sua filiação à doutrina de Kardec era uma conseqüência lógica, foi o resultado inequívoco do seu passado. Ela lhe apareceu como uma coroação daquilo em que pusera toda a sua alma: – a paz e o amor entre os homens.
Principiou pelo socialismo. Os seus escritos, os seus estudos, a sua mente estavam voltados para uma organização melhor da sociedade. Via nos desequilíbrios sociais a infelicidade dos seres. E nessa fase de sua atividade já demonstrava que não existia nele o egoísmo, pois que possuindo bens, queria vê-los divididos pelos necessitados. Não se conformava com a desigual repartição das riquezas; com a excessiva prosperidade de uns e a miséria de outros;com a prepotência de um lado e a humilhação de outro lado;com o fausto e a ociosidade de uma parte e de outra parte o trabalho excessivo, que levava ao exaurimento.
E Lins dedicou-se de toda a alma às questões sociais. Era um socialista cristão: as reformas deveriam vir do centro para a periferia, isto é, da alma, do interior do ser humano, como uma dádiva para a coletividade.
Pois esse homem que só vivia para a paz e para o bem, que só pensava em meios pacíficos, que desejava as reformas pelo consenso de todos, viu-se, de repente, por denúncias perversas, envolvido nas malhas da polícia e levado ao xadrez. Como se fosse um comunista perigoso. Nunca foi.
Não lhe faltou, portanto, o seu quinhão de martírio na causa da humanidade.
Depois notou a prepotência de uma religião dominante sobre as demais. Pensou em congregar todos os religiosos do país para formarem uma linha de frente e oporem uma barreira aos privilégios, às prerrogativas, às imunidades, às vantagens de certa doutrina religiosa, que imperava no país, e ditava leis como soberana, e gozava quase que poderes absolutos, em detrimento e em prejuízo, não só das demais crenças religiosas, como da própria sociedade. Fizeram-no, então, presidente do “Estado leigo”, isto é, de uma sociedade que tinha por fim propugnar pela laicidade do Estado.
Em breve foram-se desvirtuando os fins da sociedade. Elementos políticos se foram infiltrando em suas fileiras. Lins, disfarçadamente, afastou-se. Sem o Lins, a sociedade morreu.
Dedicou-se, então, inteiramente ao movimento espírita.
Foi presidente da Federação Espírita do Paraná, que muito lhe deve, e onde grangeou amizades sólidas, que ainda perduram, para a felicidade do seu espírito e continuação de sua obra.
Por toda a parte por onde passava deixava um rastro luminoso de benefícios.
É quase impossível nomear as sociedades beneficiadas, já por seu número, como por não termos autorização para o fazer. Elas que o digam, se quiserem.
Membro do Conselho Federativo Nacional, tinha a pasta repleta de documentos; era um dos mais ativos, senão o mais ativo cooperador, com as suas idéias, as suas propostas, as suas resoluções.
Fez parte da caravana que foi ao Norte, apesar do seu precário estado de saúde. Ele sabia que o seu fim estava próximo, e quando os amigos lhe faziam notar os perigos a que se expunha com seu excesso de trabalho, respondia: – “Pois é, meu velho, precisamos aproveitar os últimos momentos”.
Carlos Imbassahy, em 19/03/1952.