FREDERICO JÚNIOR – BIOGRAFIA

Frederico Júnior

Aos 30 de agosto de 1.914, após dolorosa enfermidade, desencarnava, com a resignação e a confiança do verdadeiro espírita, o célebre médium brasileiro Frederico Pereira da Silva Júnior, cuja vida, como escreveu Pedro Richard, seu grande amigo e companheiro de 32 anos, “foi muito mais acidentada e grandiosa do que a de Mme. Espérance, contada por ela própria em seu livro “No País das Sombras”.

O primeiro contato dele com o Espiritismo foi em 1.878, na “Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade”, aí levado pelo seu padrinho Luis Antônio dos Santos. Desejava Frederico obter notícias de uma pessoa querida desencarnada havia algum tempo. Para surpresa geral, ele próprio cai em transe sonambúlico, influenciado por um Espírito. Data daí a sua iniciação como médium na mencionada Sociedade.

Convertido, também em 1.878, o Dr. Antônio Luis Saião ao Espiritismo, pouco tempo depois um ilustre amigo dele, o professor de Filosofia J. Rodrigues de Macedo, soube, com tristeza, do fato e, talvez com o objetivo de desmascarar o “embuste”, pediu-lhe para assistir a uma sessão mediúnica. Comparecendo a ela, eis que, por intermédio de Frederico Júnior, o pai do referido professor, falecido havia anos, dirigiu ao visitante uma saudação afetuosa, em letra firme, caligrafia que foi imediatamente reconhecida pelo filho, entre emocionado e assombrado.

Quando a “Sociedade de Estudos Espíritas” tomou, em 1.879, rumo puramente científico, constituindo-se na “Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade”, dela se desligou um grupo de elementos, entre os quais se achavam Bittencourt Sampaio, Antônio Luis Sayão e Frederico Júnior, e fundaram, em 1.880, o “Grupo Espírita Fraternidade”, de orientação evangélica, e que ficou memorável pelos seus notáveis trabalhos de desobsessão, ali se estudando, nas seções ordinárias, o Evangelho de Jesus segundo a Revelação dada a J. B. Roustaing.

Em 1.882, já havia nesta última Sociedade um seleto número de médiuns, destacando-se Frederico, quer pela variedade de dons mediúnicos, quer pela extrema dedicação ao trabalho na Seara espírita.

Não apenas ao referido Grupo prestou Frederico a sua colaboração mediúnica. Em 06 de junho de 1.880, o Doutor Antônio Luis Sayão, depois de, em vão, tentar unir, em torno de um mesmo ideal, os membros das duas Sociedades dissidentes, fundou, sob a inspiração do Guia do Espiritismo no Brasil, um pequeno grupo destinado ao estudo e à prática dos Evangelhos, conhecido por “Grupo dos Humildes” ou “Grupo do Sayão”, mais tarde (quando se incorporou à Federação Espírita Brasileira) denominado “Grupo Ismael”.

Em sua primeira sessão, no dia 15 de julho de 1.880, Frederico Júnior atuou como médium, tendo recebido longa mensagem do elevado Espírito de Ismael, a falar de suas esperanças ante os novos esforços para reabilitação do Espiritismo em terras do Brasil.

Desse novo núcleo constam como fundadores, além dos nomes citados, os seguintes médiuns de ilibada moral: Isabel Maria de Araújo Sampaio, João Gonçalves do Nascimento, prodigioso médium curador, Manuel Antônio dos Santos Silva e Francisco Leite de Bittencourt Sampaio. Quase todos eles faziam parte também do “Grupo Espírita Fraternidade”.

Durante 34 anos, Frederico Júnior exerceu assiduamente suas funções mediúnicas no Grupo Ismael, tendo recebido em 11 de junho de 1.914, a sua última comunicação do Além.

Por seu intermédio contam-se centenas de curas de obsessões, limitando-se, mais tarde, os trabalhos no referido Grupo quase que somente à doutrinação de poderosos e diabólicos Espíritos, altamente intelectualizados, chefes de grandes falanges do mal.

Em 1.893, o Dr. Antônio Luis Sayão dava a público o volume “Trabalhos Espíritas”, repositório de instrutivas mensagens de Espíritos elevadíssimos, obtidas no “Grupo Ismael”, em sua maior parte pelo médium Frederico.

Em 1.897, mais uma obra organizada por Sayão saía a lume: “Estudos dos Evangelhos”, que desde a sua segunda edição (1.902) ganhou o novo título: “Elucidações Evangélicas”. A segunda parte deste livro (hoje excluída, a fim de torná-lo acessível à bolsa dos confrades) encerrava quase uma centena de belas comunicações, todas igualmente recebidas no “Grupo Ismael”, pela mediunidade sonambúlica de Frederico. “Elucidações Evangélicas” é, em síntese, “um resumo de Roustaing, com as vantagens de Allan Kardec”. E por ser – segundo as palavras de Bezerra de Menezes – “uma obra preciosa em que transluzem os clarões da Verdade”, ela continua a merecer a atenção dos estudiosos do Evangelho.

Bittencourt Sampaio desencarnar em 1.885. Dois anos depois, o seu sublime Espírito, encontrando em Frederico Júnior o instrumento maleável à expansão dos seus ideais cristãos, começou a ditar, por seu intermédio, três obras em que se sobressaem belíssimas páginas literárias e doutrinárias e que foram publicadas pela FEB nesta ordem: “Jesus perante a Cristandade” (1.898), “De Jesus para as Crianças” (1.901) e “Do Calvário ao Apocalipse” (1.907). Em todas elas reconhecia-se o mesmíssimo estilo do autor de “A Divina Epopeia”, apesar de serem ditadas pela boca de um homem iletrado, que mal conhecia a gramática. Nascera e crescera o médium num meio de operários, sem recursos e tempo para cursar colégios. Rodeado de boêmios até a adolescência, jamais se deixou arrastar pelos excessos ou desvios desses últimos.

Médium passivo por excelência, conseguiam os Espíritos identificar-se facilmente por ele, e, muitas vezes, antes de terminar a mensagem, todos os presentes já sabiam qual o autor dela.

Numa apreciação ao primeiro livro ditado pelo Espírito de Bittencourt Sampaio ao médium Frederico, o ilustre político, literato e publicista Dr. Eunápio Deiró, católico extremado, chamou para o fato a atenção do bispo da cidade do Rio de Janeiro, nos seguintes termos: “Tome, Sr. Bispo, cuidado, porque quem conhece o inimitável estilo de Bittencourt Sampaio não pode deixar de reconhecê-lo neste livro que, da outra vida, veio firmado pelo próprio Bittencourt Sampaio”.

Bem conhecidas dos espíritas brasileiros são as oportuníssimas instruções que o Espírito de Allan Kardec transmitiu no “Grupo Espírita Fraternidade”, pelo médium Frederico Júnior.

Conquanto recebidas em fins do século passado, tais instruções ainda conservam, perenes, o valor, a importância e a beleza de sua mensagem, ainda se ajustam perfeitamente aos dias atuais, daí estarem até hoje no opúsculo “A Prece”, de Allan Kardec, incluídas que foram pela Federação Espírita Brasileira.

Frederico Júnior era um bom, querido de todos, sendo muitos os que lhe deviam gratidão por um que outro serviço, e, como funcionário público, estimadíssimo pelos seus colegas. “Era de um desprendimento e dedicação verdadeiramente evangélicos” – afirmou Pedro Richard, acrescentando: “Frederico não podia parar em casa, com o sentido nos seus doentes. Logo ao amanhecer saía de sua residência para visitar os enfermos. E nisso estava o seu maior consolo e o seu bem-estar”.

Com graves responsabilidade no meio espírita, grande era sobre ele o assédio dos aborrecidos da Luz, que do outro plano da vida o perseguiam tenazmente. “Ele só por si” – escreveu Pedro Richard – “constituía um exército que assombrava as falanges inimigas da Luz, e por isso mesmo era o alvo predileto das setas venenosas dos adversários de Jesus. Até da pouca benevolência de confrades foi Frederico Júnior vítima, máxime dos que muito exigem dos outros, mas que nada, ou quase nada produzem”.

Nos últimos dez anos de existência terrena, mais intensa e persistente foi a perseguição que lhe moveram do Espaço, por vezes ficando ele totalmente subjugado. Certa vez, os Espíritos das Trevas tentaram até incendiar-lhe a casa. E graças aos seus Guias protetores e ao Espírito de sua primeira esposa, Frederico não sucumbiu ao suicídio.

A tuberculose pulmonar acompanhou-o nos derradeiros anos de vida. Sem uma queixa e achando justo o seu sofrimento, o prodigioso médium purgava as faltas de encarnações passadas, remindo assim o seu espírito.

Pressentindo, afinal, o seu desenlace, reuniu a família e, após pronunciar sentida prece, fechou os olhos ao mundo em sua residência à Rua Navarro, 121, aos 56 anos de idade, sendo sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier (Caju).

Foi assim que partiu para a espiritualidade o grande médium Frederico Pereira da Silva Júnior, que, servindo a Federação Espírita Brasileira, através do “Grupo Ismael”, tantos benefícios espalhou por toda a parte, fazendo jus, portanto, à página com que lhe recordamos a passagem por este planeta de provas e expiações.