O MELINDRE

Ary Brasil Marques
Em nosso entendimento, um dos maiores entraves para o nosso desenvolvimento é o melindre.
O melindre é o verdadeiro vírus da discórdia. Ele ataca sorrateiramente a todos aqueles que, invigilantes, dão valor maior do que o devido a si mesmo. O amor próprio tem um limite.
Ter amor próprio na dose certa é importante. Precisamos nos amar, cuidar de nossa boa aparência e gostar de nós mesmos.
Esse amor não pode superar o limite do razoável. Quando passamos a nos julgar superiores a nossos irmãos, avançamos para a vaidade, para o orgulho, para a falsa superioridade. Ao atingir esse estágio perigoso, todas as ideias, observações ou palavras de nossos semelhantes que são contrárias ao nosso ponto de vista nos machucam muito.
Surge então o melindre. Não admitimos ser contrariados. Não aceitamos opiniões diferentes. Nos enchemos de mágoa, de não me toques. E o pior é que isso nos entristece, nos tira do equilíbrio, trazem consequências físicas e afetam profundamente nosso relacionamento com pessoas queridas.
A mágoa destrói nossas resistências orgânicas. Ela obstrui os nossos canais responsáveis pela circulação sanguínea e pelo equilíbrio de nosso corpo físico.
O melindre é causa de muitas discussões que poderiam ter sido evitadas. Bastaria uma atitude de tolerância, de compreensão. Todos nós, espíritos ainda imperfeitos vivendo na Terra, estamos sujeitos a ter atitudes e a falar palavras ofensivas a nossos irmãos, e que a tolerância mútua e o perdão podem transformar em coisas banais e sem importância os episódios que julgamos terríveis ofensas que nos fazem.
Uma pequena discussão entre marido e mulher pode trazer muita discórdia e até separações por causa do melindre. Tolerância é ainda o melhor remédio para a manutenção da paz nos lares.
O mesmo acontece entre pais e filhos, entre irmãos e entre amigos, muitas vezes provocando o afastamento de pessoas que se amam, apenas por terem se deixado levar pelo melindre. Muitas entidades religiosas respeitáveis e até instituições espíritas podem ser atingidas por esse terrível vírus.
Temos que combater esse mal. O caminho para isso é seguir os ensinamentos e o exemplo de Jesus.
Vamos contar até dez, respirar fundo, combater o ato de nos julgar superiores, ouvir o que o outro nos fala, ponderar com calma sem alterar a voz, analisar todos os ângulos do que diz nosso oponente, são algumas coisas que podemos fazer para sufocar nosso amor próprio ferido. Lembremos de que não somos o centro do universo, e que todos podem ter opiniões diferentes sobre qualquer assunto.
Nosso grande erro é querer impor a nossa verdade ao nosso semelhante. E gritamos. E nos descontrolamos.
Quanto desgosto, quanto stress, quanta depressão poderemos evitar apenas eliminando o melindre em nossa vida.

SBC, 10/09/2007.