O VAU



Por benfeitor venerável,
No seio da natureza,
Rola o rio caudaloso
Escondendo a profundeza.

Enquanto busca reserva,
Guardando seu próprio leito,
Ninguém se arrisca à passagem
Sem cuidado e sem respeito.

O rio jamais se nega
A ceder na travessia,
Mas todos se acercam dele
Com a máxima cortesia.

Socorrem-se os viajantes
Do auxílio de embarcação,
E espera-se a ponte amiga
Como justa construção.

Mas, se um dia, por descuido,
O rio apresenta o vau,
Ai dele! O destino agora
É triste, amargoso e mau.

Ninguém lhe receia as águas
Noutro tempo respeitadas;
Invadem-nas cavaleiros,
Carros, toras e boiadas.

As correntes que eram puras,
E amadas por justa fama,
Rolam sujas e insultadas
De lodo, de lixo e de lama.

A ponte dorme em projeto
E o rio, embora a beleza,
Depois que exibiu o vau,
Nunca mais teve defesa.

As nossas almas também
São como o rio profundo…
A zona de intimidade
Precisa ocultar-se ao mundo.

*

O mal quer turvar-nos sempre.
Vigia, resiste e vence-o.
Se queres respeito e paz,
Não te esqueças do silêncio.

Do livro “CARTILHA DA NATUREZA” pelo Espírito Casimiro Cunha – psicografado por Francisco Cândido Xavier